Profissionais do Porto de Santos comentam tendências e inovações tecnológicas no cais


Comemorando 124 anos no dia 2 de fevereiro, o Porto de Santos destaca-se não só como o maior porto em movimentação de carga da América Latina, mas também como impulsionador de inovações tecnológicas. Especialistas falam sobre soluções implementadas e o que será indispensável no futuro do cais.

“Com os novos arrendamentos em um ambiente de crise, os operadores portuários precisarão ser mais competitivos. Isso significa investir em ferramentas que ofereçam redução de custos associados a serviços mais ágeis e inovadores aos seus clientes.

Paralelamente, o aumento da demanda fruto da maior oferta de serviços exigirá do complexo portuário da Baixada Santista uma preocupação extra com a organização do escoamento das cargas. E isso significa investimento em sistemas de agendamento mais integrados e eficientes.”

Ricardo Pupo Larguesa – Diretor Comercial da T2S.

“Tecnologicamente o Porto de Santos continua com os mesmos desafios há mais de 2 ou 3 anos: implantar, de fato, o VTMIS e o Portolog, bem como integrá-los ao Porto Sem Papel. Estes dois projetos estão evoluindo lentamente.”

Rodrigo Lopes Salgado – Diretor Operacional da T2S.

“Acredito que o futuro do Porto de Santos tecnologicamente falando passa pela adoção de novos processos de automação de suas atividades e de novos controles de segurança, como por exemplo, o uso de drones para segurança de perímetro portuário, tudo integrado a um único sistema de gestão dessas áreas em conformidade com as diretrizes da receita federal do Brasil e do Programa Operador Econômico autorizado – OEA/AEO.”

Vander Serra de Abreu – Gerente de TI da ABTRA.

Porto-modelo em tecnologia

Segundo o superintendente de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) da Companhia das Docas do Estado de São Paulo (Codesp), Paschoal Rodrigues, um dos principais marcos tecnológicos no cais santista ocorreu em função das normas do Código Internacional para Segurança de Navios e Instalações Portuárias (ISPS-Code), da Organização Marítima Internacional (IMO). “Santos obteve o selo em 2003 e desde então, a infraestrutura adotada para mantê-lo é referência no País“.

Para continuar com essa certificação, o porto conta com mais de 500 câmeras de monitoramento, 22 quilômetros de fibra ótica, quatro torres de transmissão de 40 metros de altura, 26 rádios microondas e banco de dados com 140 mil cadastros de pessoas e veículos.

Outro projeto destacado por Rodrigues é o Sistema de Gestão de Tráfego de Caminhões (SGTC), implantado pela companhia em 2012. Trate-se de um software de agendamento que integra 42 terminais públicos e privados.

Para entrar no porto organizado, o veículo deve seguir o dia e horário previamente definidos. Essa característica somada à localização precisa do transporte – é possível saber se o caminhão está no pátio, no terminal ou dentro do intervalo de tolerância – evita gargalos logísticos.

De acordo com a Codesp, em 2015, quase cem por cento dos caminhões fizeram o agendamento via SGTC. Como consequência, na safra daquele ano, não foi registrada ocorrência de congestionamento por falta de programação, mesmo durante os nove dias de incêndio na Ultracargo.

Enquanto as tecnologias desenvolvidas pela autoridade portuária estão atreladas principalmente à segurança e ao acesso ao porto, os terminais investem em ferramentas que alavanquem a movimentação por hora (mph).

Entretanto, conforme o professor de Gestão de Operações Portuárias da Fatec Rubens Lara, Renato Marcio dos Santos, para obter um ganho significativo em produtividade é fundamental que o sistema esteja integrado aos processos da empresa.

Uma ideia que agilizou os processos foi a Janela Única Portuária (JUP), criada pela Associação Brasileira de Terminais e Recintos Alfandegados (ABTRA) em nome da comunidade portuária em Santos. Hoje, essa tecnologia também está presente nos portos de Paranaguá, Vitória e Rio de Janeiro.

A JUP rastreia todas as etapas percorridas por diversos tipos de carga durante a importação e a exportação através da comunicação entre os sistemas dos operadores portuários e de agentes públicos como Receita Federal, Ministério da Agricultura, Anvisa e Ibama.

Como resultado, a análise de risco do comércio exterior reduziu de 48 horas para três horas na importação cargas; 36 para três horas no agendamento da exportação de granéis e veículos; e três dias para um dia na liberação de contêineres de importação com embalagens/suporte de madeira.
Não obstante, o importador e o terminal conseguem saber quais contêineres serão inspecionados em até 48 horas antes do navio atracar.

Pioneirismo tecnológico

De acordo com Rodrigues, o Porto de Santos foi o primeiro porto latinoamericano e a segunda instituição brasileira a dispor de computador. O modelo B-200 da BURROUGHS foi instalado em 1963.

Mais tarde, em 2010, fazendo jus ao seu DNA high tech, o Porto de Santos fez o planejamento do seu próprio Vessel Traffic Management Information System (VTMIS), e criou o Termo de Referência. Na época, a Secretaria de Portos (SEP) ainda não havia iniciado o projeto.

(Fotos: Codesp/ABTRA)

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